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A ARTE RUPESTRE EM PONTA GROSSA

Alessandro Chagas

   A expressão arte rupestre, também chamada de arte parietal, é etimologicamente derivada do latim “rupes = rocha” e refere-se aos testemunhos gráficos das sociedades do passado, deixados sobre as paredes e tetos de cavernas, abrigos-sob-rocha ou lajes a céu aberto.


   Considera-se arte rupestre como uma forma de comunicação através de convenções, ou seja, um tipo de linguagem simbólica organizada; uma estratégia de se relacionar com as pessoas através do tempo. Vialou (1999; 2000) destaca que a arte rupestre é uma marca muito importante da originalidade simbólica, que se reflete e se define na extensão territorial em que ocorre. Assim, as pinturas e gravuras espelham a identidade cultural da sociedade que as fez, tratando-se de uma expressão da consciência simbólica coletiva. (Parellada, 2015)


   No Paraná, a arte rupestre tem sido encontrada em vários municípios da região, todas nas paredes da formação arenítica Furnas, ao longo da Escarpa Devoniana. A maior parte dos sítios arqueológicos cadastrados nestas regiões, são em abrigos-sob-rocha, cavernas areníticas e em algumas paredes a céu aberto.

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Figura 1 – Mapa com a localização dos Sítios Arqueológicos catalogados na primeira fase do projeto Caracterização do Patrimônio Natural dos Campos Gerais. (UEPG, 2002)

   As primeiras evidências de povoamento na área que hoje compreende o Estado do Paraná remonta a cerca de 10.000 anos a.p., e estão relacionadas a ocupações de populações indígenas pré-históricas caçadoras e coletoras que se denominam tradições Umbu e Humaitá, as de coleta litorânea representadas pelos Sambaquis, de povos horticultores e ceramistas denominadas de tradição Regional Itararé/Taquara, e mais recentemente os Tupi guarani.

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Figura 2 – Periodização arqueológica na região dos Campos Gerais. (Fonte:Patrimônio Natural dos Campos Gerais; Melo; Moro; GUIMARÃES; EDITORA UEPG, 2014)

   Na região que compreende o Estado do Paraná, os sítios com arte rupestre foram divididos em duas Tradições, a Tradição Planalto e a Tradição Geométrica.

TRADIÇÃO PLANALTO

 

   A quase totalidade dos sítios só apresenta grafismos pintados em vermelho. As figuras mais destacadas são sempre zoomorfos (figuras animais) monocrômicos, cuja freqüência pode ser muito alta, aparecendo antropomorfos em pequena quantidade. Entre os animais, os quadrúpedes são os mais representados, particularmente os cervídeos. Em certas regiões, os outros animais freqüentes são os peixes e/ou pássaros. Raramente são encontrados figuras de tatus, tamanduás, porcos-do-mato, etc.

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Figura 3 – Exemplo de representação da Tradição Planalto, no Abrigo Sumidouro do Rio Quebra Perna. (Fonte: o autor)

TRADIÇÃO GEOMÉTRICA

 

   Nessa tradição encontra-se uma grande quantidade de figuras geométricas, como: traços, círculos, pontilhados, tracejados e etc. A ocorrência desta tradição aparece em menor número do que a Tradição Planalto.

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Figura 4 – Exemplo de representação da Tradição Geométrica, no Abrigo Paiquerê. (Fonte: o autor)

   Entretanto, devido às poucas pesquisas realizadas até o momento, muitas inscrições ainda não foram documentadas. Por isso, a proteção e estudo do patrimônio arqueológico dos Campos Gerais é tarefa urgente e necessária. Além do estudo das populações pré-históricas, sua cultura e hábitos, e os vestígios arqueológicos podem ainda permitir a interpretação de paleoclimas indutores de variações ambientais, migrações e o reconhecimento da fauna e flora pretéritas. Entretanto, pelo desconhecimento, esse patrimônio tem sido vítima de depredações antrópicas e naturais, que implicam perdas irreversíveis para a arqueologia da região.


   Os riscos que têm ameaçado o patrimônio arqueológico regional poderiam ser evitados ou minimizados se a importância dos sítios fosse reconhecida pela população local, a qual passaria a atuar como parceira na notificação de novas descobertas e preservação dos sítios já conhecidos. Programas de Educação Ambiental nas escolas da rede de ensino poderiam estender o conhecimento e valorização dos sítios arqueológicos às faixas etárias em idade escolar, reforçando a conscientização da população para a necessidade de sua preservação e estudo aprofundado.

   Ao longo desses anos de atuação, o Projeto Arqueotrekking realiza ações pedagógicas através de palestras e oficinas aos alunos das Escolas Municipais e Estaduais, estudantes de Cursos Técnicos e Universitários, órgãos públicos e instituições que possam promover a preservação de lugares de interesse arqueológico.

Figura 5 - Imagens de ações de educação patrimonial e palestras. (Fonte: o autor)

    Através das visitas aos sítios arqueológicos são feitos os registros audiovisuais que compõe o banco de dados utilizados na produção de vídeos didáticos divulgados em palestras e canais na internet. Também são realizadas caminhadas arqueológicas em parceria com o Refúgio das Curucacas Ecoturismo.

Figura 6 - Caminhadas Arqueológicas como produtos de experiência turística. (Créditos: Anna Rachel / Iara Schmitz)

    O Projeto Arqueo Trekking contribuiu para a criação de geoprodutos e a inclusão do Sítio Arqueológico Abrigo Usina São Jorge ao inventário cultural do município de Ponta Grossa.

Figura 7 - Geoprodutos e Ofício de Inclusão de Pinturas Rupestres no Inventário Cultural. (Fonte: o autor)

    A utilização do software DStretch trouxe inovação às pesquisas do Projeto Arqueotrekking. O software realça os pigmentos através da aplicação de filtros que levaram a novas descobertas arqueológicas.   

Figura 8 - Exemplos de aplicação do Filtro DStretch. (Fonte: o autor)

Texto elaborado por Alessandro Chagas, do Projeto Arqueo Trekking.